"A solidão das grandes cidades"

 

Penso muito sobre a necessidade que algumas pessoas possuem de falar sobre si próprias, sobre seus problemas, sobre sua vida. É a solidão. A solidão das grandes cidades. Cada vez mais percebo o quanto a cidade nos isola, o quanto somos mais egoístas a cada dia que passa. Tipo a lei da sobrevivência mesmo.

Hoje os condomínios todos são planejados e construídos de modo a nos oferecer tudo aquilo de que, supostamente, precisamos: espaço gourmet, espaço mulher, espaço cão e gato, espaço da criança, espaço fitness… Junta-se a isso o fato de que a mídia está sempre transmitindo a idéia de que nos falta segurança. A pessoa ao seu lado pode ser justamente a que lhe fará mal (tá, isso pode ser verdade, mas, desde quando não é assim?). Há cada vez mais trânsito. A idéia é que você não precisa mais sair de casa. Quando sai, é para consumir. Os shoppings estão cada vez mais lotados de gente de todas as idades e de todas as classes. A idéia é que você não precisa mais ver gente. Você não precisa mais conversar, inclusive dentro de casa. Cada um fica em frente da sua TV ou do seu laptop. A idéia é que você não precisa mais de ninguém.

Por isso fico feliz quando alguém, um desconhecido, vem conversar comigo. Ontem, por exemplo, um taxista perguntou meu nome e começou a contar sua história. Falamos sobre muita coisa: família, distância, amor, casamento, dinheiro, dívidas, planos, Deus, universo. Talvez nunca mais nos veremos. É provável que eu nunca saiba se os planos que ele me revelou serão concretizados. Mas tudo foi importante, sobretudo para cumprir uma necessidade básica dos relacionamentos humanos: um precisa falar e o outro ouvir.